«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quarta-feira, setembro 30, 2009

Dois dias depois do escrutínio 17

A tentativa de colar o Presidente da República ao PSD, com aquela história de os assessores de Belém estarem a colaborar no programa eleitoral dos social-democratas, parece óbvia.

Por outro lado, a história das escutas plantada no Público pelo assessor de Cavaco Silva parece uma resposta à tentativa de elementos do PS colarem o Presidente ao PSD.

Quanto ao primeiro caso, procurou-se desvalorizar o papel e as acções futuras do Presidente, conotando-as com um partido. Daí as leituras que se têm feito quanto à perda de confiança de Cavaco Silva face ao actual e futuro governo do PS. Perda de confiança essa que foi comunicada pelo Presidente, implicitamente, ao país, no meio de uma embrulhada para safar a sua posição face ao caso das alegadas escutas em Belém.

Com José Sócrates a dar alguns sinais de não querer mudar o rumo dos últimos quatro anos, apesar de ter passado de 45% para 36% nas contas eleitorais, de maioria absoluta a relativa, os tempos adivinham-se difíceis. Na relação entre o Executivo e a Presidência da República e na Assembleia da República.

Veremos se José Sócrates reconhece mesmo a diferença entre maioria relativa e maioria absoluta e há uma mudança de atitude e rumo. Os próximos tempos serão interessantes para o confirmar.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Dia depois do escrutínio 16

É preciso reconhecer que José Sócrates, apesar do forte desgaste de uma governação reformista e de aperto orçamental de quatro anos e meio - foi o único partido que perdeu votos face à eleição de 2005: mais de meio milhão -, conseguiu uma vitória de uma dimensão importante, que nunca esteve em dúvida no meu espírito. A dúvida estava na dimensão da maioria relativa. Ficou dentro do projectado pelas sondagens.

Entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, a liderança socialista é a que oferece maiores potencialidades na governação, quer se goste ou não de determinadas opções.

Os desafios serão muitos para o partido do governo e os restantes partidos. Esperemos que todos, maioria relativa e minorias, estejam à altura das suas responsabilidades. Será interessante ver a evolução das posturas nos próximos tempos.

Se de facto Francisco Louça esqueceu cumprimentar José Sócrates pela vitória nas eleições, tal indicia arrogância. As minorias não podem criticar a arrogância da maioria e depois cair na mesma tentação.

Terminado o escrutínio 15

Se a arrogância de uma maioria absoluta é condenável também o é a arrogância das minorias. Veremos se os vários partidos no parlamento nacional assumem as suas responsabilidades no sentido do entendimento e do compromisso, para assegurar uma estabilidade governativa e fazer avançar o país.

domingo, setembro 27, 2009

Terminado o escrutínio 14

Tal como a mudança de atitude do PS, será interessante também ver a atitude do BE e do CDS-PP. As cedências terão de ser de todas as partes, sobretudo de quem teve menos votos. O PS teve 36,5% dos votos, convém não esquecer. Tal como o PS não pode fazer tudo sozinho.

Terminado o escrutínio 13

Parece que o PS perdeu mais de 500 mil votos, de 45% para 36,5%, de 121 para 96 deputados (+ 2 do Círculo da Europa, em princípio), face às legislativas de 2005. A maioria relativa é mesmo relativa. Que o PS não o esqueça. Será interessante ver a mudança de atitude do novo governo face ao anterior.

No final do escrutínio 12

José Sócrates reconhece a diferença entre maioria relativa e maioria absoluta e promete diálogo democrático com os outros partidos, para cumprir a vontade expressa pelos portugueses. Um bom sinal de abertura. Esperemos pelos actos. O futuro primeiro-ministro realça o valor político da estabilidade para governar toda a legislatura. Outro bom sinal. Esperemos que a cultura de negociação e de compromisso seja assumida pelo governo PS.

No final do escrutínio 11

Veremos agora se o próximo governo do PS muda de atitude e de rumo à medida da maioria relativa. Esperemos que tenha entendido a mensagem do povo português inerente aos resultados eleitorais de hoje, por mais que o PS tente enfatizar com adjectivos («extraordinária», «clara» ou «inequívoca») a maioria relativa. Não se esqueça que a «confiança» dos portugueses «renovada» no PS é relativa. Passou de absoluta a relativa.

Durante o escrutínio 10

Maria de Lurdes Rodrigues é a ministra mais derrotada, juntamente com a sua equipa, nesta noite eleitoral. Vai embora com a maioria absoluta. A resposta dos professores nas urnas chegou.

Durante o escrutínio 9

Mais do que os números da abstenção, será interessante ver a percentagem de votos nulos e votos em branco, que em 2005 foi de 1,14% e 1,80%, respectivamente.

Durante o escrutínio 8

Parece que o CDS-PP vai eleger um deputado para a Assembleia da República na Madeira à custa do PS, que elege apenas um deputado, longe dos três de 2005. É fácil perceber que os professores, como outras classes profissionais do funcionalismo público, tiveram mão no aumento do peso eleitoral e eleição do deputado do CDS-PP.

Durante o escrutínio 7

Os festejos do PS, apesar da vitória, são tímidos tendo em conta a perda entre 5 e 7% dos votos face aos 45% de 2005. O CDS-PP e o BE são os grandes vencedores. O PSD o derrotado. Manuela Ferreira Leite não tem condições para manter a liderança.

PS perdeu os professores por 4 razões

Hoje, não há dúvidas de quem perdeu mais votos relativamente a 2005 foi o PS. Os mais beneficiados foram o BE e o CDS-PP, onde se concentrou uma série de votos de protesto, incluindo uma parte dos cerca de 140 mil professores e outros mais.

O PS perdeu os professores devido:

1. À atitude hostil e diabolizante da classe por parte da equipa ministerial da educação (José Sócrates escolheu-a e defendeu-a).
2. Aos cortes no salário, carreira e reforma.
3. À acentuada erosão da autoridade dos docentes.
4. Ao acentuar do laxismo e da irresponsabilidade juvenis.

Estes dois últimos factores, apesar de menos mediatizados e menos valorizados inclusive pelos sindicatos de esquerda, têm vindo a minar, progressivamente, as condições de ensino e de aprendizagem nas escolas (recordar o discurso de Barack Obama aos estudantes). Uma certa esquerda fecha os olhos à indisciplina, como se fosse inevitável e natural (chamam a isso ser progressista...), e ao seu pouco empenho na aprendizagem, como se esta acontecesse de forma espontânea ou apenas pela acção mágica do professor.

Juntar pior carreira, menos salário e pior reforma à erosão da autoridade docente e ao maior laxismo/facilitismo face à disciplina e ao trabalho dos estudantes foi de facto explosivo, com consequências por muitos bons anos.

Qualquer que seja a equipa ministerial que venha a seguir sofrerá, à priori, resistência dos professores. Terá de realizar um esforço muito grande, com medidas concretas, para voltar a conquistar a confiança dos agentes de ensino portugueses (recorde-se: E agora algo completamente igual).

Durante o escrutínio 6

Confirmado o óbito da maioria absoluta, o PS está condenado a governar com o bafo da contestação do BE bem junto ao pescoço e com a marcação do CDS-PP. Os bloquistas, como têm sublinhado, provocarão mais erosão do que colaboração.

O socialismo musculado, inebriado pelos vapores da passada maioria absoluta, terá que sujeitar-se a umas injecções de humildade democrática, se quiser sobreviver e evitar lançar o País na ingovernabilidade.

Durante o escrutínio 5

Perdida a maioria absoluta, os 4ou 5 deputados do PSD da Região Autónoma da Madeira poderão ter um papel importante a desempenhar na nova legislatura caso o PS termine com 111 ou 112 deputados (a maioria absoluta consegue-se com 116 deputados).

Durante o escrutínio 4

Entre as várias projecções não há surpresas quando ao desfecho eleitoral. O PS é o vencedor esperado, com uma previsão entre 36 e 41%, que se traduzirá entre 97 e 111 deputados, mas morreu a maioria absoluta e o socialismo musculado que dela emanou.

À beira do escrutínio 3

A Universidade Católica prevê uma abstenção entre 38 e 43%. Em 2005 foi de 35,7%.

Alega-se que houve um aumento de 600 mil eleitores, mas o que importa é a percentagem sobre o total dos votantes nesta eleição e não se houve ou não um maior número de eleitores votantes relativamente a 2005. A abstenção prejudicará mais os grandes partidos.

À beira do escrutínio 2

Se cerca de 2 milhões e 600 mil votos deram ao PS, em 2005, 45% dos votos, a perda de cerca de 100 mil votos dos professores (calculando que dos 140 mil agentes de ensino 100 mil terão votado PS há quatro anos), equivale a uma perda de 1,7%. Em número de deputados significa perder cerca de 5, isto é, passar dos actuais 121 para 116. Significaria a maioria absoluta por um fio. Isto só à conta dos docentes.

À beira do escrutínio

Hoje, não há dúvidas de que a maior derrotada será a maioria absoluta. Não há dúvidas de quem perderá mais votos relativamente a 2005. O mais beneficiado será o BE. Há quatro anos e meio os resultados foram os seguintes:

PS: 45,03%
PSD: 28,77%
CDU: 7,54%
CDS-PP: 7,24%
BE: 6,35%

The Young Gods

Only Heaven dos The Young Gods é um álbum que, em 1995, não dei o devido apreço. Voltei a ouvi-lo ultimamente e é um disco entre os melhores, pela energia e criatividade, escapando aos cânones impostos pelos estilos musicais, numa mistura única entre industrial, rock psicadélico, electrónica e texturas ambientais. Conseguem diversificar e, simultaneamente, manter unidade e coerência. Conseguem ser intensos e enérgicos e, simultaneamente, ser subtis, contemplativos e dar palco à melodia e às texturas.

Ando agora a ouvir também o Super Ready / Fragmenté (2007), que é também uma obra-prima. Este trio suiço liderado por Franz Treichler continua tão pertinente como há duas décadas. Tenho de ouvir com mais frequência The Young Gods. A música é revitalizante e desafiante.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Discurso de Barack Obama aos estudantes em 08.09.2009





O discurso de Barack Obama aos estudantes americanos, em 8 de Setembro último, é interessante, embora possa ser contestado em alguns aspectos como "Eu já falei sobre a responsabilidade dos vossos professores vos inspirarem e fazer-vos aprender": aos professores não cabe sobretudo ensinar as matérias? Cuidado com o romantismo do "inspirar".

Destaco as passagens que resumem a minha luta nos últimos anos, em contexto escolar (parece que uma certa esquerda e uma certa direita, em Portugal - José Sócrates não tem coragem para seguir Obama nesta matéria: prefere entreter-se a desmotivar e a hostilizar os professores -, ainda não compreenderam o peso dos valores universais do trabalho, da disciplina e da responsabilidade do estudante no seu sucesso: preferem a complacência e o facilitismo, falsamente democratizantes e inclusivos, porque as pessoas não ficam preparadas para a vida real):

«At the end of the day, we can have the most dedicated teachers, the most supportive parents, and the best schools in the world – and none of it will matter unless all of you fulfill your responsibilities. Unless you show up to those schools; pay attention to those teachers; listen to your parents, grandparents and other adults; and put in the hard work it takes to succeed.»

«And that’s what I want to focus on today: the responsibility each of you has for your education. I want to start with the responsibility you have to yourself.»

«At the end of the day, the circumstances of your life – what you look like, where you come from, how much money you have, what you’ve got going on at home – that’s no excuse for neglecting your homework or having a bad attitude. That’s no excuse for talking back to your teacher, or cutting class, or dropping out of school. That’s no excuse for not trying

«No one’s born being good at things, you become good at things through hard work

Em português:

«No final do dia, podem ter os professores mais dedicados, os pais mais atenciosos, as melhores escolas do mundo e nada disso terá importância a não ser que todos vocês cumpram as vossas responsabilidades. A não ser que vocês compareçam a essas escolas, prestem atenção a esses professores, ouçam os vossos pais, avós e adultos e tenham o empenho necessário para obter sucesso.»

«E é nisso que eu quero focar-me hoje: na responsabilidade que cada um de vocês tem na vossa própria educação. Eu quero começar com a responsabilidade que vocês têm com vocês mesmos.»

«Mas no final do dia, as circunstâncias da tua vida - como te pareces, de onde vens, quanto dinheiro tens, o que está acontecendo na tua casa - não é desculpa para negligenciares o teu trabalho de casa ou ter uma má atitude. Não é desculpa para dar uma resposta rude ao professor, ou faltar às aulas, ou desistir da escola. Não é desculpa para não tentar

«Ninguém nasceu a saber bem as coisas, tornas-te bom por via do trabalho duro

Esta luta tem sido feita neste blogue:
Valores do trabalho e da responsabilidade moribundos nas escolas
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Realidade escolar
Insucesso escolar vem de longe 3
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 1
Gastar mais e ter dos piores resultados

terça-feira, setembro 22, 2009

Chegou às 22h19

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Estação que simboliza o reinício do ciclo da vida e o retomar das rotinas, o Outono está também associado às depressões, à melancolia e à nostalgia. Nada que impeça de viver bem o Outono.

«Simbolicamente, a energia da natureza retira-se para o interior da terra, ela interioriza-se. A energia solar, tão importante e vivificadora no Verão, diminui. Todo este movimento da natureza manifestar-se-á. A força que estava no exterior transfere-se para o interior.

Tal como o fruto se separa da árvore, tal como a semente se separa do fruto, a alma separa-se do corpo. O Outono é a hora da separação. Separa-se o espiritual do material. À maneira de uma triagem necessária, existe separação a fim de preparar uma vida nova. As árvores perdem as folhas e despem-se. É preciso saber rejeitar o que nos estorva. É preciso aprender a separarmo-nos de tudo o que não somos nós próprios.

O Outono é também uma zona de passagem da semente e da renovação. Após a recolha do passado, de que a semente é símbolo, o Outono é a promessa do futuro. É preciso preparar a vida nova
(Várzea de Sintra, 4 de Novembro de 2008 Georges Stobbaerts)

Cai preço dos CDs, mas não por cá

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O novo de MUSE na Fnac custa 20.95 euros (era 22.50), um Preço Verde. É uma edição apresentada como exclusiva (CD+DVD). A edição standard custa 17.95 euros.

O mesmo álbum, na inglesa CDWOW, custa 11.99 libras (13.24 euros) na edição com DVD e 7.99 libras (8.81 euros), na edição normal, já incluído o transporte. (Geralmente, o conteúdo dos DVDs das edições especiais são decepcionantes, isto é, não são uma real mais-valia. Neste caso o DVD traz apenas o making of do álbum. Dispensável.)

Damos o exemplo de MUSE como poderíamos dar outros. É só fazer as contas. Se calhar os retalhistas em lojas físicas não tenham margem para baixar o preço dos CDs...

Lembro-me de, no início dos anos 90, há quase 20 anos, portanto, comprar CDs a 3.100 escudos (mais de 15 euros). Numa dada altura, os discos aproximaram-se mesmo dos 20 euros.

Com a presente crise mundial, a CDWOW vende discos novos entre 7 e 10 euros, incluindo já o transporte.

domingo, setembro 20, 2009

Gastar mais e ter dos piores resultados escolares?

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«A Madeira gasta 7.858 euros/ano por cada aluno, enquanto a média nacional se situa nos 4.772 euros. Já os Açores têm 5.843 euros para cada um dos 50 mil alunos que frequentam os estabelecimentos de ensino pré-escolar, básico e secundário.» (Diário 20.09.2009)

Há qualquer coisa que aqui não bate certo. Gastamos mais no sistema de ensino e a Madeira continua a ter dos piores resultados escolares do País, segundo os dados estatísticos dos últimos anos (realidade escolar ou retenções e desistência). Há algo que está a falhar.

Temos mais e melhores professores, com mais e melhor formação. O que se passa então? Há um caldo cultural e uma mentalidade que são difíceis de ultrapassar. E não é deitando dinheiro em cima que se resolvem os danos causados pelo facilitismo e pela ausência de valores estruturantes como o trabalho, a disciplina e a responsabilidade na população estudantil.

Umas pistas politicamente incorrectas:

Valores do trabalho e da responsabilidade moribundos nas escolas
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Realidade escolar
Insucesso escolar vem de longe 3
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 1

sábado, setembro 19, 2009

Caso das alegadas escutas em Belém

Se se confirmar que a história da "espionagem" do Governo sobre Belém foi forjada pelo assessor do Presidente da República, Fernando Lima, que a "vendeu" ao jornal Público, que por sua vez o terá noticiado mesmo sem fundamento, o Presidente da República terá de fazer rolar a cabeça desse assessor e sair, a presidência, fragilizada. E depois de rolar a primeira cabeça...

É possível que Cavaco Silva veja comprometida a reeleição para um segundo mandato. Para já, nas Eleições Legislativas, o caso favorece o PS e faz descer o PSD, porque até Ferreira Leite está em sintonia com o Presidente da República no caso das escutas.

BE reitera que não quer participar na governação


Contestar e "mandar uma bocas" é bem mais fácil do que ter que governar em coligação, em que é preciso negociar, ceder, concretizar o possível em função da realidade e não dos ideais do mundo da utopia.

Cerca dos 7m30s do vídeo disponibilizado podemos ouvir o seguinte:

Ricardo Araújo Pereira: «O Bloco de Esquerda critica e protesta mas recusa sistematicamente acordoo, por exemplo com o PS, que lhe poderia dar hipótese de ir para o governo. Não acha que para usar a política para mandar umas bocas e ficar de fora já estamos cá nós [Gato Fedorento]?»

Francisco Louçã: «Há uma coligação que se pode fazer, que é a única séria que talvez se possa fazer. Esta coligação entre os Gato Fedorento que mandam bocas e nós [BE] que nos preocupamos em mudar este país.»

Coligações políticas com outros partidos, para viabilizar ou dar estabilidade a uma governação, nomeadamente em coligação com o PS, não é considerado sério para Francisco Louçã. A «única coligação séria» é com os Gato Fedorento, que é redundante, embora os humoristas tenham uma vantagem: fazem rir as pessoas com as bocas.

Recorde-se:
BE confirma que não quer assumir responsabilidades de governação
BE recusa («jamais») coligação com o PS

Socialismo musculado não é igual a ditadura socialista

Pode-se falar em arrogância e tiques de autoristarismo (socialismo musculado), mas comparar José Sócrates ao ditador venezuelano é um exagero, tal como é um exagero o partido socialista procurar conotar Manuela Ferreira Leite com o tempo da «outra senhora».

Como se lê no Público, «Paulo Rangel endureceu o discurso e disse que o “clima de medo e intimidação no país” é a “obra e legado do engenheiro Sócrates”. O eurodeputado social-democrata “ligou” os casos TVI e as suspeitas de escutas e lembrou “o ataque” que o chefe do Governo fez ontem ao director do PÚBLICO. “Fez um ataque ao director do PÚBLICO. Só na Venezuela, e com Chávez, é que acontece. Na Europa não acontece isto” afirmou.»

Pode e deve denunciar todos os tiques de autoritarismo do socialismo musculado da actual governação nacional, mas também convém não esquecer os tiques asfixiantes de uma certa social-democracia musculada que, tal como o socialismo "vigoroso" e "dirigido", não chega a ser ditadura.

Para não me repetir, recorde-se:
Asfixia da democracia democraticamente espalhada I
Asfixia da democracia democraticamente espalhada II
Social-democracia musculada

domingo, setembro 13, 2009

Ideias sobre Educação em que me revejo 3

«Um jovem lançar-se-á à difícil tarefa de estudar, se tiver, além de capacidade de sofrimento, motivação para isso. Motivação não significa que encontre gosto em estudar, mas que descubra motivos fortes para estudar: com gosto ou sem ele. Mesmo não lhe apetecendo estudar, sentar-se-á diante dos livros com a consciência de que há coisas bem mais importantes do que o seu apetite. Saberá que há um preço a pagar por todo o belo objectivo, e estará disposto a pagá-lo com alegria. Mas o objectivo tem mesmo de ser grande e belo. Verdadeiro e profundo. Do tamanho da alma humana.»
(Paulo Geraldo)

sábado, setembro 12, 2009

A marca

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No debate entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite de hoje, perante a questão da hostilidade relativamente à classe profissional dos professores, o primeiro-ministro apenas conseguiu argumentar com a defesa do interesse geral dos portugueses.

Hostilizar e desautorizar publicamente os professores em que beneficia o interesse geral e o Ensino?

Um modelo de avaliação do desempenho dos docentes que se preocupa em avaliar todos os actos burocráticos do professor (tornando essa avaliação complexa e inexequível), em lugar de avaliar o essencial, o desempenho pedagócio, em que favorece o interesse geral dos portugueses?

Acentuar a desresponsabilização e o facilitismo na escola, com degradação das aprendizagens e respectivos resultados (falo dos resultados reais e não dos fabricados para a estatística), em que beneficia o interesse geral dos portugueses e do País?

Reformar no sector educativo contra os agentes de ensino, que são aqueles que operacionalizam as reformas no terreno, foi um erro, que já provocou uma erosão eleitoral importante ao partido do actual governo.

Este governo tomou medidas importantes na Educação, mas é fácil perceber que a imagem de marca foi a desmoralização, desvalorização e desautorização que fez relativamente aos professores, para os denegrir publicamente e transformá-los em bodes-expiatórios de tudo o que estava mal no sistema. Sem necessidade. Terá sido fruto dos vapores da maioria absoluta...

Augusto Santos Silva nega a realidade

«O Estatuto do Aluno reforçou a autoridade dos professores», afirmou Augusto Santos Silva, numa tentativa desesperada de gerir danos eleitorais devido à política de hostilidade e desautorização dos professores e ao facilitismo instalado na Educação. O estilo veemente e agressivo de nada serve.

O ministro dos Assuntos Parlamentares do PS, Augusto Santos Silva, deve habitar outro país que não Portugal ao defender no programa Prós e Contras, na RTP1, na passada segunda-feira, que o «Estatuto do Aluno reforçou a autoridade dos professores».

No post A Balbúrdia na Escola o sociólogo António Barreto considera que a principal inspiração do actual Estatuto do Aluno é a desconfiança dos professores. O documento oscila «entre a burocracia, a teoria integradora das ciências de educação, a ideia de que existe uma democracia na sala de aula e a convicção de que a disciplina é um mal.» Daqui a reforçar, como defendeu Augusto Santos Silva, cinicamente, a autoridade dos professores, vai uma distância abismal.

Nesse mesmo programa na RTP1, Paulo Rangel, do PSD afirmou que centraria a preocupação no aluno e na qualidade dos seus conhecimentos e não nos professores. Também o CDS coloca a centralidade no rigor e exigência no ensino, contrariando a desreponsabilização estudantil e o facilistismo na aprendizagem do actual governo.

A este propósito Augusto Santos Silva invocou a democratização do ensino e acusou Paulo Rangel que defender o elitismo na Educação, como se a questão se resumisse a uma questão de preto ou branco. O que o ministro do PS se esqueceu de dizer é que promovem a democratização do ensino ao nível do acesso e depois esquecem a qualidade, a exigência de trabalho, responsabilidade e disciplina aos estudantes. Se ficamos satisfeitos apenas com a democratização do acesso (ter os alunos na escola sem lhes garantir conhecimentos e competências) estamos a promover uma falsa democratização do sucesso escolar e uma ilusória inclusão social.

O PS optou por ter mão dura apenas para os professores, como se isso pudesse compensar o facilistismo e a bandalheira acentuada no ensino em nome de uma falsa inclusão e uma ilusória democratização do ensino.

Porque alunos sem conhecimentos, indisciplinados, não trabalhadores e irresponsabilizados não os prepara para a vida. São antes factores de exclusão.

Uma certa esquerda fecha os olhos à indisciplina dos alunos, como se fosse inevitável e natural (chamam a isso ser progressista...), e ao seu pouco empenho na aprendizagem, como se esta acontecesse de forma espontânea ou apenas pela acção mágica do professor. Estou cansado destes complexos ideológicos em que está presa uma certa esquerda. A direita, que não está ilibada de responsabilidades, é mais clara quanto às questões da disciplina, da autoridade e do esforço individual.

Na Madeira, note-se, temos um governo de direita mas a bandalheira nas escolas e nas salas de aulas é uma realidade, semelhante ao que se passa no resto do país. Há também uma certa direita que é laxista e facilistista.

sexta-feira, setembro 11, 2009

BE confirma não querer assumir responsabilidades de governação

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No final do frente-a-frente de hoje, na RTP1, entre Paulo Portas e Francisco Louçã, a moderadora Judite de Sousa, perante as previsões de empate técnico entre PS e PSD, referiu que «Portugal poderá entrar num período muito difícil de ingovernabilidade». Perguntou então ao líder bloquista: «Qual a responsabilidade que o seu partido está disposto a assumir?»

Não houve resposta. Louçã fugiu à questão dizendo que «agora nós temos ingovernabilidade, agora», com a governação de José Sócrates: código do trabalho, 400 mil trabalhadores temporários e desemprego. E depois mandou mais umas farpas a Paulo Portas para não responder à pergunta da jornalista. O BE foge de algumas questões como o diabo da cruz.

Ao fim ao cabo, significa que não se preocupa com uma possível instabilidade governativa após 27 de Setembro, mesmo que isso piore a situação dos trabalhadores precários, dos desempregados e de muitos dos actuais empregados.

No post BE recusa («jamais») coligação com o PS já tínhamos percebido que o partido liderado por Francisco Louçã não deseja assumir responsabilidades de governação:

«Não iremos [para o governo] com nenhum partido e nenhuma política aos quais nos opomos». Uma clara opção pela oposição às políticas dos outros e não pela tentativa de concretização de algumas políticas próprias. Será que o BE sonha governar sozinho, para aplicar as suas políticas de forma pura? Será adepto inconfesso de maiorias absolutas (quem sabe se totalitárias...), desde que esteja a mandar?

Assumir responsabilidades governativas e concretizar o que se apregoa, perante as possibilidades oferecidas pelo mundo real, o mundo do possível, é mais difícil do que constestar com um punhado de utopias debaixo do braço. O BE está preso no seu próprio radicalismo, nos seus dogmas.

Pretende o BE um governo minoritário para contestar e causar erosão no parlamento, sem negociar, sem se comprometer minimamente com a governação. Instabilidade e ingovernabilidade para o BE reinar...

Recorde-se ainda que foi o mesmo Louçã, que se diz tão preocupado com os desempregados e os pobres, que ridicularizou a poupança que se faria com a simultaneidade dos próximos actos eleitorais (legislativas e autárquicas). Disse, demagogicamente, "aquilo que se poupa ao fazer a sobreposição das duas eleições é aproximadamente o que se gasta nas iluminações de Natal da Avenida da Liberdade", quando se sabe que se poupariam «cerca de 4 milhões de euros numa despesa global estimada em 19 milhões de euros (10 milhões para as legislativas e cerca de 9 milhões para as eleições locais)», como se leu no Público de 18.6.2009. Deveria antes o BE ter proposto a poupança, em favor de quem mais precisa em tempo de crise, não aprovando a tal lei de financiamento dos partidos nem dois actos eleitorais separados, apesar de tão próximos.

quinta-feira, setembro 10, 2009

O nono maior clube europeu do século XX

Símbolo exposto na Casa do Benfica de Soure.

O Benfica é o nono maior clube do Século XX na Europa, de acordo com uma tabela, baseada em resultados nas competições europeias realizadas entre 1901 e 2000, hoje publicada pela Federação Internacional da História e Estatísticas do Futebol (IFFHS).

Quem atrever-se a duvidar de quem foi (e é) o maior, vai ser lembrado desta estatística por parte dos benfiquistas.

1. Real Madrid, Esp 563,50 pontos
2. Juventus, Ita 466,00
3. FC Barcelona, Esp 458,00
4. AC Milan, Ita 399,75
5. Bayern Munique, Ale 399,00
6. Inter de Milão, Ita 362,00
7. Ajax, Hol 332,75
8. Liverpool, Ing 300,25
9. Benfica, Por 299,00
10. Anderlecht, Bel 231,00

(...)

29. FC Porto, Por 115,00
47. Sporting, Por 68,00
110. V. Setúbal, Por, 21,00

Novo tema de David Sylvian



O novo álbum, Manafon (pode ouvir aqui excertos dos temas), é editado em 14 de Setembro.

Recorde-se:
David Sylvian abandona a zona de conforto: “It's the farthest place i've ever been, it's a new frontier for me”.

«Emanações»



«Farto das perguntas sobre o facto de Manuela Ferreira Leite ter usado um carro do Estado [viatura da presidência do Governo Regional] em campanha eleitoral na Madeira, Alberto João Jardim fez uso do inglês para insultar os críticos: "fuck them", disse o líder madeirense aos jornalistas», narrou então o JN.

Veja o vídeo acima disponibilizado, que mostra um Alberto João Jardim que faz lembrar aqueles miúdos traquinas, com um sorriso depois de ter feito uma travessura. Confesso que me ri, apesar de ser incorrecto, insultuoso e condenável este tipo de «emanações que ultrapassam os limites minimamente razoáveis», para citar Monteiro Diniz. «[S]ão as flores, as festas, o vinho, a alegria»...

Professores à rasca

O desemprego promete atingir mais professores, como deu conta a manchete reproduzida na imagem (Diário 3.9.2009).

Uma outra notícia (Diário 1.9.2009), dera conta de muitos professores candidatos aos próximos actos eleitorais, talvez por o tipo de vínculo laboral os deixar menos sujeitos a pressões, no caso das candidaturas nas listas da oposição, e a procura de alternativas de vida face à actual situação na escola portuguesa (cortes no salário e carreira docentes, indisciplina juvenil, desgaste acentuado e dificuldade de realização profissional).

terça-feira, setembro 08, 2009

Xutos & Pontapés: they still rock after all these 30 years II



Ainda propósito do concerto dos Xutos de sábado na Ponta do Sol, no encore «também se ouviu "Para Sempre" do álbum Tentação (1998), que é sem dúvida das melhores baladas tugas», como alertou um comentarista atento. Agradeço a atenção. Recordamos este tema no registo ao vivo acima postado.

Enquanto tocavam este tema final já eu furava a multidão para o regresso a casa. Nesse encore, além do polémico "Sem Eira Nem Beira - o baterista Kalu foi substituído na bateria para cantar à frente no palco -, seguiram-se "Ai Se Ele Cai" (2004), "Classe de 79" e o antémico "Contentores" do álbum Circo de Feras (1987). O concerto fechou com o referido "Para Sempre".

Recorde-se:
Xutos & Pontapés: they still rock after all these 30 years I

Saber viver 1


Viver.

«Não é verdade que possamos eliminar da vida as grandes contrariedades, as decisões custosas, a doença, o esforço quase insuportável, a dor física e moral, a morte. Seremos felizes com eles ou não seremos felizes nunca. A vida é de tal maneira que o homem deve erguer-se nela como o castelo. Deve ser construído, pedra a pedra, de forma a permanecer no seu lugar quando sopram ventos inesperadamente fortes; de forma a cumprir aquilo que dele se espera, aquilo a que se comprometeu, aquilo que o torna feliz.» (Paulo Geraldo)

Muitas vezes as pessoas acreditam que a felicidade é igual à ausência de problemas e dificuldades. A verdade é que a dor e o sofrimento fazem parte da vida, e enquanto não aceitarmos essa realidade, bem como a nossa incapacidade de controlo sobre muito do que nos acontece todos os dias, não atingiremos um estado de felicidade. A realidade é esta: quem espera ser feliz num mundo idealizado e perfeito está condenado à infelicidade ou, pelo menos, a muita instabilidade (ups and downs).

De nada serve a fuga da realidade do sofrimento que é inerente à vida. Todos temos as nossas "anestesias" (uns cantam, outros bebem, outros rezam, entre tantas outras coisas), mas não convém perder de vista essa realidade do sofrimento que é a vida. Se nos recusarmos a acolher e a reconhecer a dor e o sofrimento como parte integrante e inerente à vida e ao nosso crescimento, dificilmente seremos felizes (mesmo o mais surtudo da vida apenas será feliz fugazmente). A chave do nosso bem-estar mora dentro de nós, quer queiramos ou não aceitar: Atitude mental e instinto primordial.

A propósito:
Sistema de compensações/equilíbrios
Atitude mental e instinto primordial
Mais Música, menos Prozac
Viver (António Variações)
O contrário disto, o contrário de alguma coisa (alma portuguesa)
Poder de mudar por decisão própria
Prognóstico invariavelmente fatal
António Lobo Antunes (luta da vida)
Compensação
Pensar bem, viver melhor
Felicidade 3 (dois tipos de férias)
Felicidade 2 («bocados bons»)
Felicidade 1 (colhe o presente)

segunda-feira, setembro 07, 2009

Amor & ódio pelo capital?

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Segundo o jornal I, Michael Moore, o senhor anti-capitalismo, para quem "capitalism is evil", cobra, alegadamente, dois mil euros por entrevista... entrando em contradição palavras e actos.

Curiosamente, o cineasta acabou de estrear em Veneza um novo filme-documentário intitulado Capitalism: A Love Story (Capitalismo: Uma História de Amor), em que denuncia o capitalismo perverso e desumano.

Eu também critico o capitalismo desumano ao serviço da ganância de alguns (daí a importância da regulação) e é importante denunciar as causas da actual crise financeira, económica e social planetária, mas nem eu nem o famoso realizador (provocador profissional) podemos esquecer as benesses e comodidades do capitalismo e da economia de mercado, que possibilita, por exemplo, o sucesso financeiro de Michael Moore.

Uma história de amor nunca tem um só lado. A realidade não é sectária. Não sei se o novo filme de Michael Moore o é.

Asfixia da democracia democraticamente espalhada 2

Não vamos repetir o que já dissemos sobre o assunto, mas Manuela Ferreira Leite, hoje na Madeira, disse que por cá não sente que exista asfixia da democracia («asfixia democrática»), ao contrário do que diz acontecer no Continente.

Antes dever-se-ia ter perguntado à líder do PSD sobre a existência de social-democracia musculada. Deve ser uma questão de sinónimos...

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domingo, setembro 06, 2009

Xutos & Pontapés: they still rock after all these 30 years [actualizado 8 Setembro]

Uns Xutos & Pontapés mais velhos, mid-tempo, mas sempre profissionais e com um bom disco de originais para apresentar ao vivo, cujos temas dominaram o concerto na Ponta do Sol, sábado à noite.

Comprei o álbum deste ano dos Xutos & Pontapés e não me arrependi. Fui ver o concerto, depois de os ter visto no primeiro concerto que deram na Madeira, nos anos 80, e também não me arrependi. E pagaria para os ver com todo o gosto.

Pena que as entidades públicas, neste caso as autarquias, com dinheiro público, se substituam os promotores de espectáculos e inviabilizem os concertos que não sejam à borla. Parece que se está num regime comunista, em que o Estado de tudo toma conta e providencia em termos de espectáculos. Sei que muitas das pessoas presentes não iriam ver Xutos & Pontapés se tivessem de pagar 20 ou 30 euros, por impossibilidade financeira ou simplesmente porque estão habituados às borlas.

Depois de 30 anos, os Xutos estão ainda para as curvas, isto é, mantêm-se pertinentes e conquistam a nova geração de teenagers. Tim pediu a quem assistia ao concerto da banda pela primeira vez para levantar o braço e foram muitos os que se ergueram. O vocalista referiu que o inquérito confirma a estatística de outros concertos deste ano. No final, Zé Pedro agradeceu ao público as três décadas de «vida malvada» que lhes proporcionaram os fãs.

"Estado de Dúvida" abre o recente disco e abriu o concerto, com uma boa linha de baixo. Seguiram-se "Quem é Quem", mais acelerado, e "Tetris Anónimus", com um ritmo mais punk e guitarras mais presentes. Depois voltou-se atrás no tempo para "Esquadrão da Morte", do disco ao vivo 1º de Agosto no RVV (2000) e "Mundo ao Contrário" do álbum de 2004.

Retomando o mais recente de originais, surgiu "Sensação", que abre com uma pedalada mais metaleira, e "Falcão", antes de um solo de bateria levar ao tema "Remar, Remar", parte do disco ao vivo de 2000.

"Santo e a Senha", "Perfeito Vazio" e "Amor com Paixão" do novo álbum precederam o "Homem do Leme" do disco Cerco (1985), para logo voltar ao mais recente "Superjacto".

"Circo de Feras" (1987), "Chuva Dissolvente" do álbum Dizer Não de Vez (1992), "Não Sou o Único" (1987), "À Minha Maneira" (1988) e o obrigatório "A Minha Casinha" (1988) fecharam a actuação. Eram 23:50 e tinha passado hora e meia de actuação.

Regressaram para o encore e o baterista Kalu foi substituído na bateria para cantar o polémico "Sem Eira Nem Beira" à frente no palco. Seguiram-se "Ai Se Ele Cai" (2004), "Classe de 79" e o antémico "Contentores" do álbum Circo de Feras (1987). NOTA: ainda «se ouviu "Para Sempre" do álbum Tentação (1998), que é sem dúvida das melhores baladas tugas», como alertou um comentarista atento. Agradeço a atenção. Enquanto tocavam este tema final já eu furava a multidão para o regresso a casa.

Photo taken with a Nokia cellphone 3.2 megapixel camera : no editing : no flash : © neliodesousa : September 5, 2009

Recanto

Vista pouco conhecida no Estreito da Calheta. Jardim do Mar depois do penhasco ao fundo.
Photo taken with a Nokia cellphone 3.2 megapixel camera : no editing : no flash : © neliodesousa : August 2009

«A relassa fraqueza»

José Pacheco Pereira escreveu um texto no Público (29.08.2009) a propósito da queda de uma falésia no Algarve, que se aplica ao caso das quebradas na Madeira, nomeadamente no acesso ao Jardim do Mar e Paúl do Mar. O "optimismo" e a "bonacheirice" irresponsáveis continuam e, se morrer alguém, a culpa será da natureza e nunca dos homens. Sabe-se o que está errado mas prefere-se viver a ilusão da mentira e do irrealismo, à espera que tudo se resolva por si, algum dia, à base da esperança e do optimismo. Preferimos ser complacentes, "relassos" e "bonhacheironos". Nada de disciplina e ordem cívicas. Há um contexto mental-cultural que é (quase?) impossível mudar.
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«Já citei mais de uma vez uma das cartas ficcionais de Fradique Mendes a Madame de Jouarre, em que este descreve a sua chegada de comboio a Lisboa. A carta é uma cruel metáfora sobre Portugal, das mais cruéis e desapiedadas que conheço, e mortiferamente verdadeira. Nela cabe da pior maneira a indústria do "sonho", da "esperança" do "optimismo", com que uns se pretendem distinguir dos outros como sendo melhores. Eles "sonham", os outros não.

Essa espécie de oração sobre a "esperança" e o "sonho" tem outras variantes, como seja: "temos que acreditar em nós próprios", "somos capazes", "os portugueses só sabem dizer mal de si próprios diferentemente dos outros povos que nunca o fazem" (quem diz isto não sabe nada dos "outros povos"), "não se pode só dizer mal", etc., etc. Este mambo-jambo piedoso apenas pretende manter os portugueses numa espécie de estado de estupor cívico, ignorando a sua realidade e os seus problemas, envolvendo-os naquilo que o mesmo Eça chamava o "manto diáfano" da mentira. Este "manto diáfano", muitas vezes mais para o nevoeiro espesso do que para o "diáfano", é assegurado pela propaganda dos poderosos, mas também pela credulidade emocional dos destinatários.

O que está de mais cruel na carta de Fradique é a a afirmação de que o êxito desse marketing da "esperança" é que ele tem sucesso, não porque os portugueses tenham qualquer esperança, mas sim porque lhes agrada ouvir esse discurso, na exacta medida em que também lhes agrada o seu oposto, o catastrofismo absoluto. Não tendo que ser bipolares, algum dos lados está errado, ou então somos incapazes de nos colocarmos ao centro, no domínio da Razão. Estão sempre a acenar-nos com o Pathos, e o Pathos "passa" bem quer na televisão quer na retórica política produzida por cínicos para as massas. Sensatez - escassa; expectativas irrealistas - muitas. É o "sonho".

Eça, na pele de Fradique, culpava a "bonacheirice" dos portugueses:

"Humilhação incomparável! Senti logo não sei que torpe enternecimento, que me amolecia o coração. Era a bonacheirice, a relassa fraqueza que nos enlaça a todos nós Portugueses, nos enche de culpada indulgência uns para os outros, e irremediavelmente estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem."

As palavras de Eça "Disciplina" e "Ordem" são de natureza cívica, não são emanações da autoridade. A "ordem" aqui não tem o sentido salazarista que 40 anos depois vai ter: Eça não está a pedir que nos imponham qualquer "ordem" para corrigir os nossos defeitos, está a enunciar o que espontaneamente nos falta, o que marca o nosso atraso, aquilo de que não somos capazes, pela nossa "relassa fraqueza". E todos os dias precisamos desta crueldade queiroziana em vez da louvação das nossas virtudes "bonacheironas".

Também por isso, não há dia em que leia mais uma peripécia portuguesa da culpa, e elas são quase diárias, sem que não me lembre do Fradique "humilhado" por si próprio, por ser tão "bonacheirão" como todos os portugueses e acabar por ser tão complacente como qualquer um. E observar a triste exibição da nossa incapacidade para qualquer "Disciplina" e "Ordem" por causa da nossa "culpada indulgência".

Veja-se o que aconteceu com as falésias do Algarve, um remake da ponte de Entre-os-Rios, só que menos espectacular. A falésia da praia Maria Luísa caiu matando várias pessoas. Seguiu-se a visita das Personalidades e a explicação das Entidades, no meio de um cenário de basbaques "populares", a olharem para o local onde pouco antes passeara a morte. Televisões estavam todas e metade dos telejornais ficava garantido pela espectacularidade do cenário, pela confluência de polícias, militares, bombeiros, botes, ambulâncias, gruas e fitas de demarcação. Boa televisão, boas audiências, até que apareça outra tragédia e melhores imagens.

Uma pletora de entidades, ministérios, institutos, polícias, autarquias, militares, instituições científicas veio explicar que a culpa era do mar, do vento, da areia e das pedras que não se comportaram como devia ser. E mais, a culpa é da física, da química, da matemática, da estatística, do aquecimento global, das alterações climáticas, da geologia por via dos sismos, do magma profundo. Não é nunca dos homens, nem dos que deviam cuidar, nem dos que não tiveram cuidado. O resultado é sempre o mesmo, nem os que deviam cuidar vão cuidar melhor, nem os que deviam ter cuidado vão passar a tê-lo. Se houvesse "Disciplina" e "Ordem", seria isso a lição que as mortes nos dariam, tarde e a más horas, mas infeliz lição.

Assim não se tira lição nenhuma. Uma semana depois de uma azáfama de verificação de falésias, a célebre encarnação do ditado "casa roubada, trancas à porta", chegou-se à conclusão que várias arribas estão exactamente na mesma situação das da praia Maria Luísa, e são consideradas "perigosas". Se não houvesse a regra da "relassa fraqueza", teria que se tirar a conclusão óbvia de que tinha que ter havido incúria, porque a verificação que se fez agora era suposto estar a ser feita de forma regular antes. Foi como as pontes depois do acidente de Entre-os-Rios. Foi-se verificar como estavam várias pontes e estavam mal. Será que tudo foi corrigido depois dos holofotes se terem virado para outra calamidade? Duvido, "a relassa fraqueza (...) estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem".

O problema é que nada muda enquanto "em cima" se continuar assim e cá "em baixo", sem exemplos que moldem a consciência cívica, sem responsabilidade assumida, sem culpa identificada, no fundo, sem consequências, pode-se continuar a achar que o "sonho" e a "esperança" impedem as pedras de virem por aí abaixo, como se as palavras bastassem. Triste ilusão que alguém paga sempre. Nas falésias foi uma infeliz família, na comunidade a que chamamos Portugal, somos quase todos, a começar pelos que menos defesas têm, os que são mais pobres, os que pagam a dobrar. É que o optimismo de encomenda não se come. Nem a "bonacheirice"

sexta-feira, setembro 04, 2009

Penalizador para o PS

Por vezes, o que parece é mais credível e verosímil do que a própria realidade. Por isso, quanto mais José Sócrates e o PS bradarem que nada têm a ver com o fim do telejornal de sexta-feira da TVI, mais passam a ideia de que têm culpa no cartório. Ao longo dos últimos meses foi claro o incómodo do PS e as tentativas de calar Manuela Moura Guedes.

«Do que eu não tenho dúvidas é que José Sócrates e o PS vão ser fortemente penalizados por algo que - também não tenho dúvidas - há muito tempo ardentemente desejavam [fim do telejornal de sexta-feira de Manuela Moura Guedes]. Mesmo que nenhuma interferência tivessem tido, não pode esquecer-se o que Sócrates foi proclamando inflamadamente em entrevistas, no congresso do PS, no Parlamento ou em comícios, sobre telejornal das sextas-feiras na TVI. Estou aliás certo de que José Sócrates estará hoje bem ciente do clamoroso erro político que constituiu o excesso das suas reacções, no passado, contra a TVI. Por isso, ainda que ponha o Doutor Santos Silva a exigir explicações da PRISA ou que jure de joelhos que nada teve a ver com o assunto, a realidade é que poucos serão os que confiarão nesses protestos. Até porque, tratando-se de Sócrates, é impossível evitar que muitos se lembrem da fábula do "Menino e o Lobo".»
JM Ferreira de Almeida

Recorde-se:
Governo socialista quer calar TVI

Cuidado 2

Santana Castilho, crítico da governação socialista na Educação, alerta para outras promessas incertas ou dúbias do PSD para o sector.

Num post anterior alertámos que o PSD promete «abolir a divisão, nos termos actuais, na carreira docente.» Esta é uma pretensão importante dos professores, porque não faz sentido criar divisões quando o conteúdo funcional da profissão é o mesmo para todos. Contudo, o PSD de Manuela Ferreira Leite pode simplesmente optar pelo que fez a Madeira: não existe divisão explícita na carreira (com a nomenclatura de professor e de professor titular), mas na prática existe uma divisão na carreira entre os docentes no 6º escalão e acima deste (acesso através de prova pública) e os professores que estão abaixo do 6º escalão.

Santana Castilho, em artigo de opinião de 2.9.2009, no Público, alerta para outros aspectos dúbios e incertos quanto ao rumo das medidas e políticas do PSD para a Educação.

«"Reveremos o Estatuto da Carreira Docente, nomeadamente no respeitante ao regime de progressão na carreira, corrigindo as injustiças do modelo vigente e abolindo a divisão, nos termos actuais, na carreira docente." Nos termos actuais? Admite o PSD manter a divisão noutros termos?»

«Promete suspender o actual modelo de avaliação do desempenho. Mas remete para estudos internacionais já existentes o suporte da acção futura. Ora existem estudos internacionais para vários gostos. E alguns recomendam processos que os professores contestam e são animados de uma ideologia que a maioria rejeita. Esta intenção é, portanto, desconfortavelmente dúbia.»

Santana Castilho chama ainda a atenção para a importância dos protagonistas que concretizam as estratégias políticas dos governos. Nos últimos anos, Maria de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos foram intérpretes que criaram mais conflitualidade e dificuldades do que fizeram avançar a Educação (não me refiro aos resultados ilusórios para a estatítica que visa mascarar da realidade e criar ficção). Penalizaram muito o governo socialista e vão penalizar o PS nos dois próximos actos eleitorais, além da dura penalização sofrida nas Eleições Europeias, em que o voto dos professores fez significativa diferença. Não havia necessidade...

Agora, de um lado está o PS a insistir nas medidas que tem tomado na Educação e, do outro lado, todos os partidos da oposição, que, genericamente, acolhem muitas das reivindicações dos professores. No entanto, a esquerda revela aquele problema de lidar com a autoridade, que é necessária na escola para serem garantidas condições de ensino-aprendizagem. O PSD e o CDS-PP mostram-se mais sensíveis a este problema da indiscplina nas escolas e não têm os complexos ideológicos de uma certa esquerda no que toca ao assunto da autoridade.

Recorde-se:
Cuidado 1
E agora, algo completamente igual (coisa menos coisa)
Partidos responderam sobre questões fundamentais colocadas pela Fenprof

Photo taken with a Nokia cellphone 3.2 megapixel camera : no editing : no flash : © neliodesousa : July 2009

Not my scene

Demasiado conforto, nenhum exotismo madeirense.
Photo taken with a Nokia cellphone 3.2 megapixel camera : no editing : no flash : © neliodesousa : Calheta August 2009

quinta-feira, setembro 03, 2009

Fim da democracia representativa e a Net

Alguns destaques do artigo de Ricardo Jorge Pinto, O fim da democracia representativa?:

«Numa democracia representativa, as pessoas escolhem políticos para tomar decisões por elas. Mas as sondagens mostram que os cidadãos cada vez acreditam menos nos políticos que os representam. Alguns teóricos falam mesmo numa crise da democracia representativa e começam a proliferar experiências de formas de democracia participativa

«Os media tradicionais foram molas impulsionadoras das democracias em que hoje vivemos. Imprensa, rádio e televisão têm sido espaços privilegiados para a formação de uma opinião pública que legitima um regime em que alguns poucos tomam decisões por muitos. Talvez os novos media (de que a Internet é a face mais visível) sejam o elemento catalizador para uma mudança em que todos os cidadãos sejam motivados a participar nas decisões comuns

«O consultor político norte-americano Dick Morris (que trabalhou de perto com o ex-presidente Bill Clinton) está convencido de que a Internet pode ser a resposta a esta crise das democracias representativas. No livro intitulado “Vote.com”, este especialista diz que as novas tecnologias da comunicação estão a inventar uma nova era política, a da democracia directa. A interactividade dos computadores e dos telemóveis permitirá aos cidadãos exprimirem-se de forma instantânea sobre as mais diferentes matérias de decisão, influindo nos centros de poder.»

«Barack Obama usou as redes sociais da Internet para recolher milhões de dólares para a sua campanha presidencial, mas para isso teve de ceder competências de organização a grupos de cidadãos que o ajudaram na sua eleição.»

«O historiador Michael Schudson diz que “se os novos media digitais vão ser integrados numa nova democracia política, eles devem ser ligados a uma séria compreensão da cidadania, e isso não acontecerá se simplesmente reciclarmos a velha noção de cidadãos informados”. Isto é, as mudanças previsíveis vão implicar rupturas profundas, no perfil do político mas também do eleitor, por via das ferramentas com que ambos se vão relacionar

«A web permite a emergência de líderes novos, que por sua vez aproveitam a força da rede para reunir apoios, financiar campanhas, mobilizar a sociedade. No mundo pré-YouTube, Obama teria sido eleito? Claramente não. Nem Ségolène Royal teria vencido as primárias do seu partido sem o seu blogue “Désir d’Avenir”, onde criou uma rede descentralizada de apoio.»

«A web não é a democracia directa, mas sim uma melhor democracia representativa; com mais responsabilidade e exposição em tempo real. Cria novos mediadores e reforça o papel dos agentes políticos que forem capazes de orquestrar a inteligência colectiva - o futuro pertence-lhes. Põe enorme pressão sobre estruturas `comando e controlo’, típicas do mundo pré-web. O seu cariz distribuído faz da web a por mais que o poder tradicional a tente controlar. Cria uma nova legitimidade, baseada na transparência, na colaboração e na participação.»

A propósito:
Web fundamental para os eleitores até 30 anos
Revolução digital e jornais

quarta-feira, setembro 02, 2009

Kerry King

Ele vem aí.

«Revolução digital e jornais»

Alguns destaques do texto A revolução digital e os jornais:

«A TV é ainda o meio mais popular de se obter notícias, devido a sua simplicidade e comodidade, em segundo lugar já aparece a Internet, que vem de um forte crescimento desde 2001.»

«A Internet amadureceu bastante o seu modelo e passou a ser uma plataforma mais flexível. Houve o surgimento do RSS, grande fonte de notícias hoje, onde se pode saber das atualizações de várias fontes de jornais, blogs e sites, sem a necessidade de visitar a página.»

«Outro grande impacto que impulsionou a Internet é a quantidade de usuários conectados e o tempo que passam conectado. Com o aumento de ambos, o público torna-se maior e a possibilidade de distribuição boca a boca também aumenta. Ferramentas redes sociais como Twitter , Orkut e MySpace fazem com que as novidades se espalhem de forma nunca antes vista.»

«Os jornais passaram a ter um novo modelo de distribuição e de interação com os leitores, uma relação muito mais próxima e rápida para os dois lados, os leitores podem dar a sua opinião via comentários e receber as notícias de forma rápida e cômoda via RSS, além de poder distribuir entre os amigos via delicious, digg, twitter, orkut e outros.»

«Os veículos mudam e os modelos de negócio também, que for perspicaz irá aproveitar a oportunidade da mudança. Quem continuar com o mesmo modelo, boa sorte.»

A propósito:
Web fundamental para os eleitores até 30 anos