«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, dezembro 25, 2017

«Ainda bem que não me enquadro»

Paulo Furtado, The Legendary Tigerman, fotografado por Tiago Miranda (Expresso Online 24.12.2017)

«Antes olhava sempre para esta coisa de ser um inadaptado como uma grande seca. Agora já não sinto necessidade de me enquadrar. Pelo contrário, ainda bem que não me enquadro, ainda bem que consigo fazer as coisas como eu quero.»

«Não era fácil, para mim, relacionar-me com as pessoas, começar uma conversa. Não é por acaso que sou durante 15 anos one-man band. É óbvio que isso me remete para a infância, para o miúdo que brinca sozinho e que consegue estar fechado durante sete horas numa sala de ensaio a mecanizar gestos, a fazer a coisa menos interessante do mundo. [...] Fui percebendo, paralelamente à maluqueira da adolescência, que a forma que tinha de comunicar passava pela escrita, pelo desenho, pela arte... [...] A arte [permitiu] enquadrar-me no mundo».

«Sempre me senti desenquadrado. Creio que houve momentos em que não me enquadrava muito bem em nenhum lugar.»

«Com o tempo, fui aprendendo a esconder a timidez, a ser maluco, extrovertido... [...] Comecei por me relacionar, por ter um grupo de amigos, por sentir que pertencia a um lugar. Nunca pensei nisto antes, mas agora percebo que foi a parte extrovertida da minha personalidade que me permitiu pertencer a algo».

«Sempre fui o miúdo mais tímido e isolado do mundo. De um momento para o outro, saio dessa timidez e passo a ser o miúdo mais popular e mais maluco.»

«[H]á uma parte de mim que tem um certo pavor da dependência».

«[S]e tivesse feito outra coisa qualquer totalmente sozinho, ia mesmo ser um gajo solitário e triste, fechado num ateliê. Precisava de enfrentar a minha solidão e forçar-me a contrariá-la. Senti que a música podia ajudar-me a ser de outra maneira, a não ser uma pessoa tão isolada, tão fechada em si mesma... [...] A música foi a única forma que encontrei de não me tornar o gajo mais solitário do mundo. [...] Apesar desta dor toda, do palco e da tragédia do artista tímido, eu sabia que era aquilo que queria fazer.»

«[O] puto solitário que ficava em casa a desenhar oito horas por dia em vez de sair para brincar.»

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