«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, dezembro 24, 2017

«A revelação do amor é uma revelação de carência»



«Precisar é sempre o momento supremo. Assim como a mais arriscada alegria entre um homem e uma mulher vem quando a grandeza de precisar é tanta que se sente em agonia e espanto: sem ti eu não poderia viver. A revelação do amor é uma revelação de carência». «E solidão é não precisar. Não precisar deixa um homem muito só, todo só. Ah, precisar não isola a pessoa». «Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça—que se chama paixão.»

A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector, 1964, Relógio D' Água 2013, pp120-133

Quem sabe se influenciado pelas modernas teorias do desenvolvimento pessoal, eu convenci-me de que gostar de alguém por carência (diferente de necessidade) seria ilusório e até destrutivo, para uma relação, por o amor confundir-se com o colmatar de uma carência intrínseca, que nada tem a ver com o sentimento pela pessoa amada: esta torna-se, mera e utilitarmente, saciadora da carência do outro. 

Clarice Lispector contraria-me. No seu entender, não precisar, não ser carente, isola e deixa uma pessoa «toda só». Não precisar auto-sustentabiliza e autonomiza o ser humano. O amor cria dependência.

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