«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, setembro 02, 2012

Custos da competitividade da vida moderna

Trailer de Koyaanisqatsi - Life Out Of Balance, um filme de Godfrey Reggio and Philip Glass de 1982. Sugerimos ainda Powaqqatsi (1988), Baraka (1992), Naqoyqatsi (2002) e Avatar (2009)

Seja qual for o partido político que nos governe, neste momento a conjuntura não deixa outra margem a não ser os portugueses se tornarem mais competitivos e ambiciosos do ponto de vista da sua produtividade. Sermos melhores e acrescentarmos valor ao que produzimos.

Quem quiser vender ilusões aos portugueses como aquela ideia que nos basta a mediania e as meias-tintas para assegurar prosperidade ao País (e garantir o Estado Social) no futuro pode então continuar a insistir no irrealismo e nas promessas alimentadas pelo recurso ao crédito e à dívida externa insustentáveis.

O caminho está em produzir mais e melhor, para termos riqueza ao nosso dispor e distribuí-la da forma mais equitativa possível por todos os portugueses. Um caminho com nuances diferentes consoante as linhas ideológicas, mas não se pode fugir ao caminho no imediato.



Está também a vender ilusões quem diz que é um caminho fácil. Daí o título deste texto. A vida moderna e a competitividade coloca imensa pressão sobre os países e as pessoas.

Individualmente, há um preço a pagar (ajustamento doloroso) através de aspetos muito concretos: mais trabalho, mais sacrifício, mais investimento na formação, mais complexidade das tarefas, mais obrigações e responsabilidades, mais qualidade e intensidade no desempenho profissional (ação contínua com pouco ou nenhum descanso), avaliação constante, rápida adaptação, menos disponibilidade para a socialização (família e amigos) e para o descanso, mais stress, mais ansiedade, menos tempo para nós próprios.

Manter o equilíbrio e conciliar as várias dimensões da vida é mais difícil com a dimensão Trabalho tão dominante, como também é difícil manter a saúde e o bem-estar pessoais. Viver com quietude, suavidade e parcimónia já foi?

A pressão sobre a nossa saúde e equilíbrio humano resulta das demasiadas obrigações e responsabilidades com que temos de lidar no dia-a-dia. O sistema imunitário acaba por enfraquecer e os nossos limites físicos, emocionais, mentais e psicológicos podem ser ultrapassados, abrindo porta para as doenças.

Há pessoas que escolhem viver com menos recursos e fugir a tais constrangimentos da competitividade e da vida moderna. São opções. É difícil ter os proveitos da vida moderna e da economia da mercado (mais riqueza, mais carreira, mais acesso ao consumo, etc.) sem nada sacrificar quanto às dimensões da vida pessoal.

Como querem algumas pessoas frequentar os melhores restaurantes, fazer as melhores viagens ou ter as melhores casas e outros bens de consumo sem sacrifício e sem atividade produtiva a esse nível? Não há milagres. Não vale a pena alimentar irrealismos.

De pouco duram esses irrealismos e eles deixam heranças pesadas para as gerações futuras.

Como País (e Região Autónoma) quisemos ter as infraestruturas e os serviços sociais do Estado de um nível que a nossa economia (nível de crescimento, competitividade e produtividade) não conseguiu sustentar sem recurso ao endividamento excessivo e incomportável.

Nem todos viviam ou vivem acima das suas possibilidades. Há muitos portugueses que trabalham acima das suas possibilidades, com muito sacrifício, intensidade e qualidade, e são compensados abaixo do seu trabalho e potencial. O problema é que nem sempre esse trabalho é rentabilizado no contexto produtivo e organizacional, com estruturas estagnadas, retrógradas e mentalidade empresarial obsoleta.

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