«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, junho 30, 2012

Cultura do conflito e do confronto

Vive o madeirense uma violência interior contida e latente, que explode à mínima faísca, sobretudo dentro de portas?

 «A mim choca-me por exemplo a violência doméstica, que continua a aumentar.» «Eu acho que é um crime que já era bastante alto no ano passado e nestes primeiros cinco meses voltou a aumentar relativamente ao valor do ano passado.» «Pode ser também uma matéria cultural, não sei o que se passa.» «Especulando na mesma, eu tenderia a projectar mais em factores culturais. Eu penso que há se calhar uma cultura do conflito, do confronto.» «Eu também acho que há muitos acidentes, eu também acho que há muito álcool. Há taxas muito altas de condução sob a influência do álcool.» Superintendente Miguel Mendes, PSP da Madeira, Diário de Notícias, 30.6.2012

A visão de quem vem de fora, por carregar outras experiências além insula e outros pontos de referência, por ser distanciada e objetiva, tem a capacidade de ver mais claro. O que é útil se não nos deixarmos limitar pelo sentimento insular em hostilizar quem, são sendo madeirense (como se lhe faltasse um visto ou legitimidade), nos confronta com as realidades que nos incomodam. Mas, se for para nos elogiar e dizer que tudo é maravilhoso, são os melhores amigos...



Faz parte também do sentimento insular, confundir as dimensões pessoal e profissional, o interesse pessoal e o interesse coletivo, o essencial e o acessório, a argumentação e o maldizer, a discordância e o ataque pessoal, a forma e o conteúdo - no sentido de relevar-se a forma em detrimento do conteúdo. Geram-se conflitos, confrontos e bloqueios sociais desnecessários, que nos prejudicam.

Quantas vezes, para desvalorizar, diminuir, ridicularizar, maldizer ou deitar-abaixo alguém, não nos agarramos a aspetos acessórios, pessoais e irrelevantes (ridículos)? Gostamos dos faits divers, do pitoresco, do folclore, das curiosidades, do riso, do gozo, da distracção face ao que é relevante, sério e essencial.

Recorde-se e relacione-se:

Madeira campeã da violência doméstica

«Há na Madeira, na verdade, uma certa liberdade comportamental, há um ambiente lúdico, em que se cultivam determinados valores [...]. Aqui na Madeira são as flores, as festas, o vinho, a alegria e, portanto, tudo isso comporta depois estas emanações que ultrapassam os limites minimamente razoáveis
Monteiro Diniz, RTP-M 12.11.2008

«Não é só o lúdico. É uma cultura cívica. O problema é de civismo, de cidadania, de cultura, de qualidade da cidadania.»
Monteiro Diniz, RTP-M 12.11.2008

«Há um conjunto de circunstâncias sociológicas, que se projectaram ao longo dos tempos e que determinaram uma mundividência, uma certa forma de actuar e de se comportar na sociedade madeirense.»
Monteiro Diniz, RTP-M 12.11.2008

«Muitos dos acontecimentos que se passam hoje na Madeira só são explicáveis e compreendidos à luz de um conhecimento mais ou menos profundo do evoluir da sociedade, de condicionamentos económicos, políticos e sociais que a Região teve 
Monteiro Diniz, Diário de Notícias 27.6.2012

E ainda:

«Para sobreviver numa ilha, além do mais bem pequena, é preciso dar muita volta à imaginação, ter alguns cuidados como regra e evitar as pedras da calçada que estão mais salientes. Talvez seja por isso que muitos andam tristes e cautelosos a olhar para o chão como nas procissões.»
Ferreira Neto, Tribuna da Madeira, 10.3.2006

Sem comentários:

Enviar um comentário