«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, outubro 31, 2009

Resistir à pressão das massas para normalizar a bandalheira nas escolas

O segredo é não ceder aos "desvalores" do facilitismo e do laxismo actuais nas escolas, sem cultura de trabalho, disciplina e responsabilidade. Não se deixar levar pela irresponsabilidade de uma certa esquerda e de uma certa direita no que toca ao peso, para o sucesso escolar, dos valores do trabalho, da disciplina e da responsabilidade individuais dos estudantes.photo copyright

A mentalidade e contexto social actuais é de complacência geral face ao laxismo e ao facilitismo nas escolas. Quem se atreve a contrariar a moda e o politicamente correcto laissez faire, laissez aller, laissez passer, depressa é apelidado de vários nomes.

Isto vem a propósito da notícia intitulada Rédea curta na escola (Diário 25.10.2009), em que os «alunos da Escola Básica e Secundária do Porto Moniz estão cansados da disciplina e das regras de estudo, de não ter um minuto para descontrair e até já ponderaram a possibilidade de fazer uma manifestação.»

Cansados da disciplina e das regras de estudo... Será que é preciso dizer mais alguma coisa perante o tipo de valores que este gente defende? A malta quer o facilitismo e o laxismo («descontrair») que vê nas outras escolas, em casa e em outros espaços sociais. Daí a revolta contra a escola do Porto Moniz, um caso raro em que querem pôr os estudantes disciplinados e a estudar.

Como refere a notícia, a «agudizar o clima está a decisão do conselho pedagógico em descontar as faltas à sala de estudo na avaliação dos alunos do ensino básico. "É uma coisa mínima», refere o director Valter Correia, «mas a sala de estudo foi uma forma que encontrámos para combater o insucesso. Os alunos não aprendiam porque não faziam os trabalhos de casa, porque não traziam o material adequado. Agora, com a obrigação de ir à sala de estudo fazem os trabalhos de casa e os resultados melhoraram".

Se as medidas põem a malta a trabalhar, a reponsabilizar-se e a estudar, com efeitos evidentes na melhoria dos resultdos escolares (sucesso escolar), não deveriam antes estar gratos? Os valores do bom senso e da gratidão são bens escassos... A malta quer é direitos e nada de deveres, algo comum no pós-25 de Abril de 1974. Quer-se liberdade para a bandalheira, não para assumir deveres e responsabilidades.
Para Valter Correia o «mais importante é actividade lectiva, o estudo e o sucesso dos alunos. "É isso que garante a igualdade de oportunidades".» E questiona-se: "Estou aqui há tantos anos, os métodos são estes há anos e só agora é que se lembraram disto?

Alguns estudantes ouvidos pela jornalista dizem estar «cansados de ouvir discursos sobre os 'rankings' e o sucesso». Isto dá vontade de rir, não dá? Confirma-se que eles não querem saber do sucesso... Então que mudem de escola. Vão para uma escola que não exija rigor, disciplina, trabalho, estudo, responsabilidade. Existem muitas à escolha.

Esses estudantes, note-se bem, queixam-se de se dar prioridade aos «exames nacionais e ao estudo», face a actividades extra (desporto, visitas de estudo e a viagem de finalistas que queriam na Páscoa e a escola permite apenas no Verão). Confirmam de novo que querem festa e convívio antes de tudo, não o sucesso escolar, o trabalho, a responsabilidade. Será que não seguem os exemplos na sociedade? Que geração estamos a formar?

O director da escola refere: "As actividades são autorizadas só não podem comprometer as aulas. Podem fazer à quarta-feira à tarde, quando não há aulas, mas é verdade que não temos aqui as semanas disto e daquilo. Isso é perder tempo para dar os programas e distrair do que é importante". Com toda a razão. Apoio a 100% e elogio a sua coragem de contrariar o politicamente correcto e o facilitismo que se tornou natural nas escolas.

«A mais pequena indisciplina é punida de forma severa», diz o Diário. Não se pense que desatam à reguada na escola... «O director garante que é assim na Escola do Porto Moniz, nenhum tipo de indisciplina, sejam risinhos nas salas, atirar papelinhos ou andar à bofetada no recreio. Tudo é punido para que não fique pior, não se abrem excepções a ninguém. "Por muito inocente que pareçam são sempre uma tentativa de desautorização".»

E não é assim que deve ser? A direcção da escola tem de ter firmeza. Disciplina e firmeza é sinónimo, para a malta do pós-25 de Abril de 1974, de ditadura. O laxismo é de tal ordem que basta uma posição mais firme que deixa logo a malta "oprimida" e auto-apelidando-se de «escravos», como surge num comentário à notícia. Isto é muito revelador da bandalheira instalada.

O problema é Valter Correia ser um caso isolado, no bom sentido, no meio do facilitismo e laxismo geral que grassa pelas escolas da Madeira, do País, da Europa ocidental e da maioria das sociedades do chamado Ocidente. E é difícil remar contra a maré.

Valter Correia tem elevado os resultados da escola, mas afinal não é isso o importante. Interessa é entreter e divertir os alunos com actividades extra, isto é, com fantochada, com fogo-de-artifício, que os madeirenses bem gostam. Deixar a malta regozijar-se na lama do laxismo, em vez de garantirem melhores conhecimentos e competências para serem alguém na vida.

O rigor não é só para os alunos e há professores que não gostam do que lhes cabe. Sem querer ajuizar sobre uma realidade que não conheço bem, pode haver alguns exageros, não sei, penso que os docentes que valorizam as condições de trabalho na sala de aula, sem indisciplina ou má atitude perante o trabalho intelectual por parte dos estudantes, agradecem o rigor.

Quando um colega passou a trabalhar na escola do Porto Moniz disse-me que, em termos de disciplina dos alunos, passou do inferno para o céu, relativamente ao que sucedia na escola anterior. Este docente contraria a ideia que a disciplina e o trabalho estejam a «afastar professores e estudantes para outras escolas», como diz a notícia.

O Diário depois recorda que a «primeira vez que se ouviu falar das boas notas dos alunos da Escola Básica e Secundária do Porto Moniz em exames nacionais foi em 2006, logo depois de se conhecer os resultados das provas do 11º ano.» Na altura, a escola foi a «primeira do ranking regional e o caso mereceu destaque.»

«A disciplina, o estudo, a preocupação em chamar os pais à escola e o controlo às faltas dos professores foram a tónica das declarações do director da Escola numa reportagem publicada na então REVISTA do Diário. Já na altura Valter Correia dizia que era capaz de não renovar contratos a docentes que faltassem muito.»

Aqueles, incluindo escolas e docentes, que menosprezam alguns indicadores dos rankings, apesar de estarem longe de perfeitos e inviesarem algumas leituras mais simplistas, fazem-no porque surgem mal colocados nessa tabela. Então a reacção é atirar os problemas e a realidade para debaixo do tapete. É mais fácil. Assim não precisam de tomar medidas impopulares como Valter Correia.

Este comentário online à notícia, repleta de erros, a indicar que este estudante precisa de mais estudo e rigor, deixa tudo à mostra: «uma forma mais facil, divertida, com mais tempo para a vida adulscente, e outras coisas mais...Querem fazer todo da forma mais dificil, e sem se divertir...a vida acaba rápido...é perto dos 30 anos que se vai divertir..fazer coisas que eram supostas fazer na joventude, como ir a discoteca».

A malta quer é vida «fácil» e «divertida» porque a «vida acaba rápido»... Estudar, ser responsável, ter uma boa atitude perante o trabalho escolar não interessa para nada.

Mas, há outros comentários mais sérios, que não apelam ao facilitismo e ao laxismo: «Eu fui aluna nessa escola, já tirei um curso, actualmente já trabalho e tudo devo a esse PROFESSOR VALTER. Talvez se ele não tivesse tido mão pesada sobre a minha pessoa, não tivesse imposto regras, eu não fosse o que sou hoje: uma pessoa com oportunidades. Se há alguém que marcou positivamente o meu percurso pessoal e académico foi ele. Continue o bom trabalho! Oxalá houvessem mais escolas e professores como nessa escola.»

Outro ainda: «Afinal, o problema não é o professor ou a Escola!!! O problema é o cumprimento das regras, que, pelos vistos, os alunos não querem perceber. Pois... Então querem ter direitos e não cumprem os seus deveres? Se cada um de nós, como pessoa, cumprisse com as suas obrigações, a vida seria muito mais agradável, mais feliz, aproveitaríamos bem esta liberdade. Agora, apenas exigir menos rigor, sem nada fazer para tal, é absurdo. Que tal se começassem a cumprir com as regras? Já pensaram nisso? Experimentem! Não dói nada e fará de cada um de vós uma pessoa melhor e muito mais preparada para a vida.»

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